18 de janeiro de 2022

MEIO AMBIENTE - ALGAS E USO DO SOLO PODEM ALTERAR ÁGUAS DO RIO TAPAJÓS

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A coloração barrenta que em nada lembra as águas azuis-esverdeadas do Tapajós é alvo de estudo científico entre Santarém e Itaituba.

Por Sílvia Vieira, g1 Santarém e Região — PA

Fotografia aérea feita em janeiro mostra águas barrentas do Tapajós em contato com o Lago Verde, em Alter do Chão, Santarém, no Pará — Foto: Getty Images via BBC

Pesquisadores da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) vêm realizando estudos sobre a qualidade da água do Rio Tapajós entre os municípios de Santarém e Itaituba, e assim como as pessoas que moram na região, vêm percebendo ao longo dos últimos meses a mudança de coloração do rio, notadamente nas praias de Alter do Chão, conhecido como “Caribe amazônico”.

Para os ribeirinhos e pessoas que trabalham com turismo em Alter do Chão (guias turísticos, empreendedores e artesãos) a coloração barrenta que mais se assemelha à agua do Rio Amazonas, é resultado do processo de garimpagem no baixo e médio Tapajós, na região de Itaituba. Mas, para os pesquisadores, não há base científica ainda pra afirmar que a atividade de garimpo de ouro é responsável pela mudança da cor da água do rio Tapajós.

“Há muitos fatores sendo levantados sobre essa questão de mudança da coloração, mas a gente precisa de embasamento científico para afirmar as causas. Eu e docentes de outras áreas de levantamento de biodiversidade estamos tentando mapear as causas. O que podemos afirmar é que questões ambientais que envolvem uso de solo ao redor do Tapajós, inclusive com mineração, desmatamento, tratamento de esgoto, têm influência nas mudanças do rio, a ponto de prejudicar o turismo no futuro”, disse a doutora em ciências biológicas, Dávia Talgatti.

A pesquisadora integra um grupo que está desenvolvendo pesquisas em parceria com a ONG TNC e a Ufopa, no rio Tapajós de Santarém até Itaituba. Os pesquisadores realizam expedições e coletam amostras em vários pontos para analisar a qualidade da água. No laboratório eles medem os fatores, o que tem de vivo e não vivo, as características da água, pra ver como está a situação do Tapajós.

“Por enquanto, nós temos resultados relacionados às algas, que a gente chama popularmente de lodo, e a gente tem visto que essas algas estão se proliferando mais e apresentando toxicidade, e isso é muito sério. São dados preliminares, mas isso é uma indicação de uma contaminação bem séria. E essas algas também mudam a coloração do rio. Tem outras questões relacionadas às fortes chuvas, mineração, mas precisamos de embasamento científico”, relatou Talgatti.


Ainda de acordo com a pesquisadora, nas expedições realizadas, o grupo encontrou em algumas comunidades de Santarém à Itaituba a presença de toxinas das algas, que se consumidas, podem causar algumas doenças na pele, estomacais, neurológicas, entre outras. Agora, os pesquisadores vão estudar a quantidade e a frequência das cianobactérias/cianotoxinas.

Rio tapajós pode estar sendo afetado por danos de garimpos ilegais

Talgatti explica que na Amazônia há três tipos de água: águas claras, águas brancas e águas pretas. O rio Tapajós tem água clara, visto de cima, o tom da água é azul-esverdeado. Mas há alguns meses, a coloração é amarelada, como se a água estivesse tomada por barro.

“Visto do avião, por exemplo, o rio Tapajós parece quase um mar, de água clara, azulada. E aí a gente começou a notar, assim como a população que mora nessa região, que a água do Tapajós está ficando muito parecida com a do Amazonas, que nós chamamos de água branca. Isso pode ser resultado de uma série de fatores, como o avanço do rio Amazonas”, ressaltou Talgatti.

Mercúrio na bacia do Tapajós

Resultado da pesquisa sobre exposição ao mercúrio em áreas indígenas do médio rio Tapajós foi apresentado à Promotoria de Justiça de Santarém em outubro de 2021.

Os resultados apontaram, entre outras informações, níveis variados de mercúrio nas amostras de cabelo de todos os participantes, incluindo crianças, adultos, idosos, homens e mulheres. Os índices mais elevados foram observados na aldeia Sawré Aboy, seguida da aldeia Poxo Muybu e Sawré Muybu. De 57 crianças, nove (15,8%) apresentaram problemas nos testes de neurodesenvolvimento.

Resultado de pesquisa sobre mercúrio apresentado no MPPA, em Santarém — Foto: PJ Agrária

A análise do pescado mostrou as espécies que apresentaram os níveis mais altos de contaminação. As concentrações médias de mercúrio detectadas indicam que as doses de ingestão diária estimadas são de quatro a 18 vezes maiores do que os limites seguros, preconizados pela Agência de Proteção Ambiental Norte Americana (EPA, 2000), e de duas a nove vezes maiores do que os limites tolerados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO/WHO, 2003).

O trabalho foi realizado na Terra Indígena Sawré Muybu, de ocupação tradicional do povo Munduruku, ainda em fase de identificação e delimitação pela Funai, localizada nos municípios de Itaituba e Trairão. A Associação Indígena Pariri, que representa os Munduruku do médio rio Tapajós, solicitou a inclusão das aldeias Sawré Muybu, Poxo Muybu e Sawré Aboy, onde foi realizado censo populacional.

Presença de mercúrio em grávidas

Em setembro de 2017 foi apresentado estudo realizado com 45 gestantes atendidas pelo Hospital Municipal de Santarém, que detectou presença de mercúrio nos cabelos de todas, e também, no material biológico dos recém-nascidos. 37% das grávidas apresentaram níveis acima do recomendado.

No caso do material biológico dos recém-nascidos, a conclusão da pesquisadora é que as mães passaram mercúrio para seus filhos, considerando que o cordão umbilical é um tecido exclusivamente fetal. O exame das amostras revelou que todos os cordões umbilicais e placentas apresentaram concentração de mercúrio, a maioria dentro dos limites estabelecidos pela OMS.

O consumo de pescado foi apontado pelo estudo como uma das causas de concentração de mercúrio nas mulheres e no material biológico dos recém-nascidos.
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