2 de março de 2020

SOBRAL SANTOS 2, UMA TRAGÉDIA AMAZÔNICA

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Imagem: Portal Obidense
A tragédia do barco Anna Karolinna 3 trouxe à tona a maior tragédia da navegação amazônica  associada ao nome Sobral Santos, que há muito tempo tem assombrado os rios amazônicos. Mas antes de qualquer confusão, alerta-se que apesar dos barcos terem o mesmo nome, são embarcações diferentes. Ou seja, a embarcação que naufragou há quase 37 anos na porto de Óbidos, mudou de nome para Cisne Branco (Ex Sobral Santos II) e o barco Anna Karolinna III (Ex Onze de Maio, Ex Sobral Santos I), naufragou ontem perto do Amapá. Barcos diferentes, mas com o naufrágio ocorrido pelo mesmo motivo: ganância.

A imagem pode conter: céu, atividades ao ar livre e água
Imagem: Paulo Neto (Facebook)

A primeira tragédia da embarcação com esse nome, foi há quase 37 anos, mais precisamente em 19/09/1981. E foi assim: 

BARCO AFUNDA NO PARÁ COM 530 PESSOAS


O barco "Sobral Santos 2", que transportava 530 passageiros e 200 toneladas de carga na linha Santarém-Manaus, naufragou na madrugada de ontem no rio Amazonas, junto ao porto de Óbidos, no Pará. Calcula-se que mais de 300 pessoas morreram no acidente, embora apenas quatro corpos tenham sido resgatados até o final da tarde.

A Capitania dos Portos relacionou 178 sobreviventes, dos quais 53 estão internados na Santa Casa de Óbidos. Segundo depoimentos de passageiros, a embarcação navegava com excesso de peso e vinha tendo infiltração de água desde a partida de Santarém. O comandante do barco, Davi Ferreira, teria sido advertido do perigo.
Caso o número de mortos seja confirmado, este é o maior naufrágio já registrado na Amazônia.

Barco afunda com 530 passageiros - Número de mortos pode passar de 300

BELEM (Do correspondente) - Embora somente quatro corpos tenham sido resgatados até agora, pode passar de 300 o número de mortos no naufrágio do barco a motor "Sobral Santos 2", ocorrido na madrugada de sábado no porto de Óbidos, Pará, às margens do rio Amazonas.

O velho "gaiola" pertencia à empresa Onze de Maio Navegação Onzenave, de Manaus, de Calil Miguel Mourão, e fazia a linha regular semanal entre Manaus e Santarém, no Pará, tendo registro na Capitania dos Portos do Amazonas, com licença para 500 passageiros e 200 toneladas de carga.
Na sexta-feira, às 19 horas, o "Sobral Santos 2" partiu de Santarém com 530 passageiros e excesso de carga. Além dos 430 passageiros em sua listagem, transportava mais 100 de dois pequenos barcos que estavam em pane no porto de Santarém, o "Miranda Dias" e o "Emérson", e recebera mais 100 toneladas de carga, além da sua, a maior parte saco de farinha e de cereais e 6 mil grades de cerveja e refrigerantes vazios.
Depois de nove horas de viagem aproximadamente, o "Sobral Santos 2" atracou no porto de Óbidos. Eram 3h30 e a maioria dos passageiros dormiam nos camarotes ou em redes atadas por sobre a carga que se espalhava por todo o barco, desde o porão até o convés.
Pânico

Na atracação, a corda de náilon que prendia o barco ao cais, arrebentou e alguém gritou que o barco estava adernando. Muita gente acordou em pânico e correu para a amurada do barco que apressou o adernamento, indo o "Sobral Santos 2" a pique em menos de 10 minutos.

Com o adernamento muita carga caiu por cima dos passageiros e muitos passageiros jogaram-se na água, enquanto outros procuravam refúgio dentro dos camarotes, sem saber que lá ficariam presas sem possibilidade de salvamento.
O pânico foi geral e na cidade de Óbidos praticamente toda a população veio ao cais para testemunhar a tragédia. Dos 530 passageiros, apenas 178 foram relacionados por um oficial da Marinha como sobreviventes, dos quais 53 estão hospitalizados na Santa Casa de Misericórdia de Óbidos. Quatro corpos foram resgatados, sendo dois de crianças, nenhum identificado. Há 348 pessoas desaparecidas, provavelmente mortas, presas no interior de embarcação que naufragou em uma das mais profundas áreas do rio Amazonas, embora uma das menos largas. Segundo informações, a profundidade do rio em Óbidos varia de 50 a 80 metros.

Logo após o naufrágio, foram acionados salva-vidas da Polícia Militar e de empresas particulares, que trabalham com a ajuda da Marinha, que também deslocou de Santarém para Óbidos o navio patrulha "Roraima".

Também a Força Aérea deslocou para Óbidos dois aviões para ajudar no transporte dos sobreviventes para hospitais de Santarém.

Otimista

Entre os sobreviventes está Taufic Mourão, irmão de Calil Mourão, ambos proprietários da firma Onzenave. Ele disse que não acredita em mais de dez mortos e culpou os passageiros pelo afundamento do barco: "a corda quebrou e o pessoal correu todo, sem necessidade, para um lado do navio. Excesso de passageiros ou de carga não havia. Já carreguei mais do que isso e nunca aconteceu nada".

Mas, testemunhas do naufrágio e sobreviventes da tragédia afirmava que desde quando partiu de Santarém, com carga além de capacidade permitida, o "Sobral Santos 2" vinha fazendo água. Alguns se dirigiam ao comandante do barco, Davi Ferreira, avisando que temiam pelo pior, ao que ele teria respondido que não tinha nada a ver com passageiros. "Meu negócio é carga. Quanto mais carga melhor. Dá mais dinheiro".

A Capitania dos Portos do Pará deslocou seu agente em Santarém, tenente Lauro de Jesus Gonzaga, para a cidade de Óbidos para a instauração de um inquérito para apurar as causas de mais este naufrágio na região.
Caso se confirmem as 348 mortes no acidente, este seria o maior naufrágio já registrado na Amazônia. O maior até agora foi a 6 de janeiro deste ano, no rio Cajari, com o barco "Novo Amapá" no qual morreram 263 pessoas.

O Sobral Santos 2 se trata de um velhíssimo gaiola construído na Holanda há mais de 60 anos, que era inicialmente movido a vapor. Com o tempo, as caldeiras foram substituídas por motores a diesel e isso fez com que a embarcação perdesse o lastro dos porões, onde se localizavam as pesadíssimas caldeiras e se armazenava a lenha. O casco "subiu" e a estrutura perdeu o equilíbrio do projeto original.

Lendas e mitos

Lendas e mitos surgiam em torno dos acontecimentos e, segundo contam, naquela região apareceu uma fera que devorava os cadáveres, mas foi descoberto que mergulhadores perfuravam os náufragos para que os mesmos não boiassem mais. Este episódio é lembrado pelo artista Sérgio D´Andrade em um dos trechos do cordel “O Último Adeus”. Óbidos, pelo triste episódio, foi parar nas páginas do livro dos Record´s (Guinness Book) edição de 1982, como sendo a parte do rio Amazonas com maiores números de piranhas, atribuindo ao peixe o sumiço dos corpos. Também pela fadiga e oportunismo dos mergulhadores que, com alto teor de estresse, só traziam os corpos por encomenda. Assim, os homens rãs soltavam os corpos que não lhes trouxessem recursos financeiros.



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