2 de junho de 2021

COVID-19 - EMPRESÁRIO MANAUARA RECEBE POLICIA FEDERAL A TIROS

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Nilton Lins da Costa Júnior é pai de gêmeas que furaram fila da vacina em Manaus. Presidente da mantenedora da Universidade Nilton Lins, recebeu os agentes da Polícia Federal a tiros

Autor: Augusto Rodrigues, com informações da Folhapress

Nilton da Costa Lins Júnior, presidente da mantenedora
da Universidade Nilton Lins | Reprodução - Universidade Nilton Lins

Em janeiro deste ano, ganhou repercussão nacional as contratações, pela Prefeitura de Manaus, das irmãs gêmeas Isabelle e Gabrielle Kirk Maddy Lins, 24. Médicas recém-formadas, ambas tomaram a primeira dose da vacina contra a Covid-19 no dia 19 de janeiro, sendo que uma delas havia sido nomeada para o cargo no mesmo dia e a outra no dia anterior. O fato gerou revolta entre profissionais de saúde da cidade, que passava por um caos na saúde pública. Após tomarem a segunda dose do imunizante, ambas pediram exoneração.


Isabelle e Gabrielle são filhas do empresário Nilton Lins da Costa Júnior. Hoje, Nilton recebeu a tiros policiais federais que chegaram à casa dele, em cumprimento à quarta fase da Operação Sangria, que apura desvios nos recursos públicos destinados ao combate à pandemia.

O empresário foi preso. Ele é dono do hospital Nilton Lins, contratado pelo governo do Amazonas — liderado por Wilson Lima (PSC) — para ser uma unidade de campanha para pacientes com o novo coronavírus. A casa de Nilton tem proteção de guardas privados. Ao todo, a PF cumpriu 6 mandados de prisão temporária expedidos pelo STJ, incluindo o secretário de Saúde, Marcellus Campêlo, e 19 mandados de busca e apreensão, cumpridos na casa do governador Wilson Lima, na sede do governo, no hospital Nilton Lins e em outros locais em Manaus e em Porto Alegre. Além disso, houve o sequestro de bens e valores, que somam R$ 22,8 milhões.

O advogado do empresário Nilton Costa Lins Júnior, José Carlos Cavalcante, afirmou que não foi autorizado a acompanhar as buscas e confirmou que houve tiros durante a ação, disparados pelo empresário.

"Há indícios de que funcionários do alto escalão da Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas realizaram contratação fraudulenta, para favorecer grupo de empresários locais, sob orientação da cúpula do governo do estado, de um hospital de campanha que, de acordo com os elementos de prova, não atende às necessidades básicas de assistência à população atingida pela pandemia", afirma a PF.

No STJ (Superior Tribunal de Justiça), reunido nesta quarta-feira para analisar a primeira das duas denúncias da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Wilson Lima, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo comentou o episódio da prisão do empresário em meio a tiros contra os agentes. "Houve incidente bastante sério [em Manaus], em razão de ter sido um mandado de busca do ministro Francisco Falcão, que é o relator, e a Polícia Federal foi recebida a tiros pelo filho do Nilton Lins. Foi uma situação bastante constrangedora e perigosa", disse.

Lindora afirmou que nunca tinha visto algo do gênero ocorrer em décadas de atuação no Ministério Público Federal, especialmente por se tratar de ação autorizada por ministro de tribunal superior. A representante da PGR disse que não houve nenhuma vítima. Em razão de dúvidas sobre os prazos processuais e a garantia de que o contraditório foi assegurado a todas as partes, o que motivou acalorada discussão entre os ministros da Corte Especial, instância encarregada da matéria, o STJ decidiu adiar o julgamento para o dia 28 de junho.

Uso de recursos federais é alvo da CPI da Covid

Principal argumento para expandir o escopo da CPI da Covid-19 e tirar um pouco o foco no governo Jair Bolsonaro, as suspeitas de irregularidades no uso de recursos transferidos pela União aos estados e municípios provocaram quase 80 ações da Polícia Federal de um ano para cá. Esse número inclui fases diferentes de uma mesma operação. Muitas vezes, essas investigações foram iniciadas a partir de apurações de outro órgão federal, a CGU (Controladoria-Geral da União).

Grande parte das operações teve como alvos gestores de municípios, integrantes de secretarias de saúde e empresas contratadas pelas administrações, mas algumas também envolveram governadores. É o caso da operação que levou ao afastamento de Wilson Witzel (PSC) do cargo no Rio de Janeiro, além do pedido da PF ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) para indiciar Helder Barbalho (MDB), governador do Pará. Ambos os governantes criticavam a condução do combate à pandemia pelo governo federal e negam as suspeitas de irregularidades que pesam contra eles.

O governador do Amazonas também foi alvo de operação e, na véspera da instalação da CPI, denunciado pelo Ministério Público Federal. Ele nega irregularidades. As transferências federais aos estados e municípios foram feitas por meio de diversas medidas do governo, entre elas a lei complementar 173 aprovada do Congresso, no ano passado, que previu auxílio da União no valor de R$ 60 bilhões. Desse total, R$ 10 bilhões eram destinados exclusivamente às áreas da saúde e assistência social. O restante servia para mitigar os efeitos financeiros causados pela pandemia. Houve outras transferências, como uma recomposição de valores destinados aos fundos de participação dos estados e municípios, além de recursos do Ministério da Saúde.

Ao mesmo tempo, logo no início da pandemia, no ano passado, foi reconhecida emergência de saúde pública, que facilitou, até o fim de 2020, o acesso a compras relativas à pandemia. A facilidade em compras com o dinheiro do governo federal ligou alerta dos órgãos de investigação. A Polícia Federal calcula que a primeira ação envolvendo a pandemia foi a Operação Alquimia, uma investigação pontual no interior da Paraíba, na cidade de Aroeiras, com população estimada pelo IBGE em 19 mil habitantes.

Foram investigados contratos para compras de cartilhas sobre a pandemia -sendo que os materiais já estavam disponíveis gratuitamente no site do Ministério da Saúde. Até 26 de abril deste ano, houve operações relacionadas a compras que se originaram nas unidades da PF de ao menos 23 estados, na maioria dos casos relacionadas a verbas dos municípios, para apurar desvios, contratos irregulares, fraudes em licitações e superfaturamentos.
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