21 de setembro de 2020

MACAPÁ/AP - POLICIAL MILITAR DÁ SOCO EM PEDAGOGA NA FRENTE DA FAMÍLIA

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PM alega que foi fato isolado e vai apurar o que aconteceu. Pedagoga foi presa por desacato. 'Preconceito muito grande, porque éramos os únicos negros ali', comentou.

Por G1 AP — Macapá

Vídeo mostra abordagem violenta da Polícia Militar do Amapá a uma família.

Um vídeo registrou o momento em que uma mulher negra, a pedagoga Eliane Espírito Santo da Silva, de 39 anos, leva um soco no rosto, durante uma abordagem policial, em Macapá. A gravação repercutiu nas redes sociais.

A Polícia Militar (PM) do Amapá informou que vai apurar o caso, que foi um fato isolado. Inicialmente, a assessoria de imprensa afirmou que os três agentes foram afastados das funções, mas à tarde, o corregedor Edilelson Batista declarou que somente o policial gravado dando soco em Eliane teve suspensos os plantões nas ruas.

Em nota, o governador do Amapá Waldez Góes descreveu que a ação foi "recheada de atitudes racistas". Por isso, ele informou que determinou ao comando da PM a "apuração criteriosa e rápida dos fatos".

"Para mim isso foi uma tortura, mexeu muito com meu psicológico. [...] Eu fui chamada de preta, fui chamada de vagabunda por eles na delegacia. Eu me senti ofendida e para mim foi um preconceito muito grande, porque éramos os únicos negros ali. O correto era todo mundo ser ouvido. Por que eu vou pagar fiança por um crime que eu não cometi? Por que o policial me agrediu se eu não ofendi ele e estava apenas fazendo um vídeo?", disse Eliane.
A abordagem aconteceu na sexta-feira (18) à noite, numa região chamada Loteamento São José, na Zona Norte da capital. A pedagoga foi presa e apresentada no Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp) do bairro Pacoval por resistência, desacato e desobediência.

Nas imagens gravadas pelo filho dela, aparece a equipe durante abordagem a dois homens; e em seguida, um dos militares dá voz de prisão para Eliane, tenta imobilizá-la, leva ela ao chão e dá um soco no rosto dela. Ela é algemada e levada para a viatura.

Fotos mostram marcas que ficaram da abordagem — Foto: Eliane Silva/Arquivo Pessoal

De acordo com Eliane, a abordagem iniciou quando ela estava dentro do carro de um amigo da família, na frente de casa; no veículo estavam ela, o marido, dois amigos, um adolescente de 15 anos, e uma sobrinha de 4 anos.

A pedagoga descreveu que três policiais militares iniciaram a revista nos homens, enquanto mandaram ela ir para o outro lado da rua. Eliane também começou a gravar um vídeo do próprio telefone, que foi apreendido pela equipe.

O marido dela, Thiago da Silva, também foi detido pelas mesmas acusações. Eliane afirmou que, antes de ser presa, ele também questionou a abordagem; em seguida um dos policiais teria mandado ele calar a boca, o chamado de "vagabundo", e dado um soco nele.

"A polícia já abordou a gente apontando as armas para o carro. Abordou todo mudo menos eu; um deles deu um soco no estômago do meu marido. Eu falei para a equipe liberar o adolescente porque ele é do interior, e estava sob minha responsabilidade. Eu atravessei, fiquei na calçada de casa. Só um deles me agrediu", comentou Eliane.

Pedagoga levou soco no rosto durante abordagem policial na Zona Norte de Macapá — Foto: Reprodução

"A abordagem inicial foi me engasgar, me deu rasteira e me 'murrou'. Eu não tive reação, eu apanhei, só fiz gritar para a população ver o policial me agredindo desnecessariamente. Em nenhum momento houve desacato, em momento algum eu o agredi verbalmente, ele que já veio me agredindo fisicamente", acrescentou.

Em audiência de custódia realizada no sábado (19), ela teve que pagar R$ 800 de fiança para ser liberada; o mesmo valor foi arbitrado para o marido. Após sair do Ciosp, ela foi à Delegacia de Crimes Contra a Mulher (DCCM) registrar um boletim de ocorrência contra o policial.

A pedagoga afirmou que a família teme novas ameaças e retaliações.

"Minha família está com medo de represália, de fazerem algo com meu filho. Ele é trabalhador. Eu trabalho na minha casa, passei um constrangimento na frente de casa, do meu trabalho", pontuou.

O governador publicou em redes sociais uma nota em que declara que as imagens "envergonham as forças de segurança e o Estado do Amapá".

"Cenas como essa não podem ser toleradas e não podem se repetir", escreveu.







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