29 de novembro de 2019

SANTARÉM/PA - QUEM SÃO OS BRIGADISTAS PRESOS. PARA A GLOBO, DEVEM SER CANONIZADOS

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Veja quem são os quatro brigadistas investigados em Alter do Chão
Prisão preventiva foi questionada pelo MPF e revertida na quinta-feira; governador do Pará trocou delegado responsável pelo caso

Johanns Eller



Grupo saiu da prisão em Santarém com os cabelos raspados Foto: Reprodução

RIO — Apaixonados por natureza, os quatro brigadistas acusados de botar fogo na floresta se encontraram em Alter do Chão, no Oeste do Pará . O grupo formado todo por paulistas foi solto na tarde da última quinta-feira após dois dias presos.

João Victor Pereira Romano, Daniel Gutierrez Govino, Marcelo Aron Cwerner (diretor, vice e tesoureiro da ONG Aquífero Alter do Chão) e Gustavo de Almeida Fernandes (diretor de logística da ONG Saúde e Alegria, que atua há 32 anos na região) foram acusados de dano direto à unidade de conservação e associação criminosa.

Eles foram presos na última segunda-feira. Um dia depois, passaram por uma audiência de custódia e o juiz Alexandre Rizzi confirmou a prisão preventiva do grupo.

Eles são acusados de acusados de atear fogo na floresta para vender imagens do incêndio e conseguir patrocínio. A defesa nega os crimes e aponta inconsistências.

O Ministério Público Federal pediu acesso ao inquérito e informou que há, desde setembro, um inquérito da Polícia Federal com o mesmo tema: “Nenhum elemento apontava para a participação de brigadistas ou organizações da sociedade civil”.

“Ao contrário, a linha das investigações federais, que vem sendo seguida desde 2015, aponta para o assédio de grileiros, ocupação desordenada e para a especulação imobiliária como causas da degradação ambiental em Alter”, diz outro trecho do texto divulgado pelo MP.

 
Formado em turismo, Gustavo de Almeida Fernandes tem 36 anos Foto: Reprodução

'Chorava com o fim das chamas'

Gustavo de Almeida Fernandes, de 36 anos, conheceu o mundo, mas foi em Alter do Chão que encontrou seu lugar, há cinco anos. Formado em Turismo, o rapaz nascido em Bauru, no interior de São Paulo, já havia viajado por Austrália, EUA, Ilhas Fiji e praticamente toda a América Latina.

— Ele diz que pela primeira vez na vida se sente pertencente a algum lugar, sente que já morou lá em outros tempos — conta Victor Affaro, de 38 anos, um dos quatro irmãos do ativista.

O rapaz é o único dos que foram presos que trabalha para a ONG Saúde e Alegria. A instituição atua há 32 anos na região e criou um projeto de navio-hospital que foi adotado pelo Ministério da Saúde. Na última semana, Gustavo foi a São Paulo receber um prêmio em nome da ONG. Além do emprego na organização, ele é voluntário na Brigada de Alter:

— Gustavo apagou fogo de chinelo e bermuda, botou o carro dele nesse incêndio. Mandava vídeo chorando comemorando o fim das chamas. Depois é que começou a chegar ajuda, como equipamentos, principalmente capacete e corda.
Apaixonado por São Paulo, Daniel Gutierrez Govino, de 36 anos, escolheu viver em Alter Foto: Reprodução

‘É um cara com a alma da floresta’

Daniel Gutierrez Govino, de 36 anos, era apaixonado por São Paulo. Sua mãe, Vera, conta que a escolha do então morador da Vila Madalena e fotógrafo por Alter do Chão soou como surpresa.

— O Daniel é muito espiritualizado — conta.

Foi na capital paulista que conheceu a filha de um dos integrantes da ONG Saúde e Alegria, baseada na Área de Proteção Ambiental de Alter e um dos pivôs do inquérito da Polícia Civil, com quem teve um relacionamento por sete anos.

— Ele se entrega totalmente. É engajado, começou a trabalhar para defender os índios — relata a mãe.

Depois, se casou com sua atual mulher. A relação com a natureza, segundo amigos, o levou a buscar nas brigadas uma forma de defender a comunidade dos incêndios, onde muitas vezes o Estado não consegue chegar, por medo, pela dificuldade de acesso ou pela ação de grileiros.

— Ele é um cara da floresta, com a alma da floresta. O coração dele pulsa pela natureza — resume a amiga e herbalista Tania Zaccharias.
João Victor Pereira Romano, de 27 anos, criou a brigada Foto: Reprodução

Brigada nasceu após incêndio na região

João Victor Pereira Romano, de 27 anos, sempre foi desprendido do mundo, conta sua mãe, Patricia Romano. O presidente do Instituto Aquífero de Alter do Chão trabalhava como editor de vídeo em São Paulo e atuou em diferentes canais de TV. Decidiu abandonar a vida de classe média no maior estado do país após viajar à Amazônia para um filme sobre os povos da floresta.

Em Alter do Chão, conheceu sua mulher, Manu, que trocara a França pelo lugarejo paraense sete anos antes. Um incêndio próximo à sua casa o levou a combater as chamas instintivamente. Na sequência, ajudou a organizar a comunidade local e levou uma equipe do Corpo de Bombeiros para um curso de brigadista, depois de articular doações de todo o Brasil para viabilizar o deslocamento do grupo. Surgia, assim, a Brigada.

Para a mãe, as iniciativas refletem a “paixão” do filho pela floresta .

— É engraçado falarem de desvio de dinheiro. As pessoas se baseiam em pensamentos muito atrasados. O importante é a comunidade, o amor, a solidariedade — diz.
Marcelo Aron Cwerner, de 36 anos, é empreendedor Foto: Reprodução

Viagem fez economista mudar de rumo

Marcelo Aron Cwerner, de 36 anos, embora também tenha deixado São Paulo para trás sob os encantos de Alter do Chão, destoa do caminho dos demais brigadistas voluntários. O tesoureiro do Instituto Aquífero Alter do Chão se formou economista pela PUC-SP e viajou para a região paraense pela primeira vez há poucos anos, por incentivo de seu melhor amigo, João Paulo Ocuno, que o conhece há 25 anos.

A conexão com o local foi tão forte que Cwerner pediu demissão da diretoria em uma consultoria multinacional e abraçou Alter, onde vive com sua mulher e dois filhos. Não demorou muito até tocar uma agência de passeios marítimos e fundar o instituto.

— Tinha certeza de que, pelo seu perfil empreendedor e competente, ele ia se dar superbem — conta Ocuno.

Sua mulher, Adriana, resume a escolha de vida:

— Nos últimos anos, Marcelo e eu nos dedicamos incansavelmente ao propósito de cuidar desse lugar e apoiar as pessoas da região, que nos acolheram como família.
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