28 de janeiro de 2019

BRUMADINHO/MG - EM 11/12/2018, UMA PESADA BRUMA SELOU O DESTINO DAS VÍTIMAS DA BARRAGEM

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O post abaixo é uma compilação de alguns textos do jornalista Reinaldo Azevedo, que faz um apanhado das causas do rompimento da barragem, sendo que a mais importante é sobre a reunião havida em 11/12/2018, que aconteceu na Secretaria de Estado do Meio Ambiente, sob os auspícios do glorioso governo de Fernando Pimentel (PT), quando se aprovou, de forma abjeta, a ampliação em mais de 70% a extração de minério da região.

COMO INFLUENCIAR E MATAR PESSOAS 1: O que matou em Brumadinho foi uma leitura da realidade. E Zema, o imortal coletor de corpos

Por: Reinaldo Azevedo

Romeu Zema, governador mineiro
Em meio a uma das maiores tragédias do pais, com número ainda indeterminado de mortos, ele já produziu uma frase imortal

Enquanto escrevo, informa a Folha, são 34 os mortos confirmados na tragédia de Brumadinho e, atenção para a expressão de um desastre moral: o número de desaparecidos CAIU para 299.
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Marcamos um novo tento entre as maiores tragédias ambientais no mundo, com um custo ainda não sabido de vidas humanas. Como é mesmo, John Donne? A morte de qualquer homem me diminui. Não no Brasil. Por aqui, a morte tem servido para engrandecer alguns valentes. 

Eles até a transformam em plataforma eleitoral em nome da legítima defesa do que consideram “as pessoas de bem”. Os decentes já se sentiram diminuídos 34 vezes. Os indecentes estão fazendo de conta que a questão não lhes diz respeito. Pior do que isso: dedicam-se ao proselitismo com a morte alheia. E em favor da morte. 

Algo deu bastante errado naquela área explorada pela Vale. Há três anos, algo deu bastante errado em Mariana. 

Tudo o mais constante, as condições para que mais cadáveres se amontoem estão em curso e sendo ampliadas. 

Algo dará errado ainda muitas vezes. E isso quer dizer uma coisa: não é erro, mas método. Podemos suportar alguns mortos em nome da grandeza, não é mesmo? O desastre de Brumadinho já tem uma frase-símbolo, dita por Romeu Zema, o governador que está no comando de Minas há 26 dias: “Vamos resgatar somente corpos”. Ele é do partido “Novo” — eis uma abordagem, com efeito, bastante “nova” da questão. Oh, não! Ele não pode ser responsabilizado pelo desastre. Mas ele e seu partido já fizeram escolhas que fluem no mesmo sentido da lama que engole pessoas e decência. Há mais do que somente corpos, senhor governador novato. Há histórias pessoais. Há filhos sem pais. Pais sem filhos. Mulheres sem maridos. Maridos sem mulheres. Parceiros sem parceiros. Amigos sem amigos. 

E, infelizmente para o país, terei de dizer o que ele tem com isso. Não foi só o erro que matou em Brumadinho — porque algum houve. Não foi só o descuido que matou em Brumadinho, porque algum houve. O que matou em Brumadinho foi um entendimento do mundo. Um entendimento que mata pessoas.


COMO INFLUENCIAR E MATAR PESSOAS 2: A única conclusão a que um ser moral pode chegar: falta rigor ambiental, não o contrário


A ata que veio a público da reunião da Câmara de Atividades Minerárias, realizada no dia 11 de dezembro, é pornografia moral explícita. 

O encontro aconteceu na Secretaria de Estado do Meio Ambiente, sob os auspícios do glorioso governo de Fernando Pimentel (PT), que conseguiu ir até o fim, arrastando-se na indigência. 

O que se viu ali (clique aqui para ler detalhes) foi o triunfo de uma decisão abjeta, vitoriosa por 8 a 1 — e uma abstenção. A Vale queria ampliar em mais de 70% a extração de minério da região. Os riscos que a atividade comporta colocavam o projeto na “Classe 6”. Isso implica que o licenciamento ambiental seria mais lento, feito em várias etapas — e, em cada uma delas, cuidados específicos que elevam, potencialmente ao menos, a segurança das pessoas e do próprio meio ambiente. Recorreu-se a um truque: rebaixou-se o pedido para a “Classe 4”, que permite um ritual sumário. A “Classe 4” quer dizer que o troço não é tão arriscado assim e que certas verificações de segurança e algumas garantias são dispensáveis. Bem, a segurança do conjunto da obra se conta agora em corpos, não é mesmo?

Como já afirmei aqui, essa votação não tem relação de causa e efeito com a tragédia. Apenas revela como são feitas as coisas no país. Uma conselheira — Maria Teresa Viana de Freitas Corujo, do Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas (Fonasc) — votou contra, com palavras duras. 
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Chamou a decisão de “abominável”. O representante do Ibama — Julio Cesar Dutra Grillo — se absteve, o que não deixa de ser curioso. Afinal, em seu voto, ele mesmo chamou a atenção não para os riscos novos que a ampliação da produção ensejaria, mas para os que já existiam: justamente o rompimento da barragem que… acabou se rompendo. Abstenção por quê?

Ou por outra, meus caros: optou-se pelo licenciamento rápido em razão do suposto baixo rico que provocaria a elevação da produção quando era de conhecimento do grupo que, tudo o mais constante, sem mudança nenhuma, a possibilidade de rompimento já existia. Sim, a avaliação técnica atestava a segurança da barragem. Como se vê… Qual é a única conclusão a que pode chegar um ser moral? É preciso aumentar o rigor, não diminuí-lo, como se fez ali e como se tende a fazer em Minas e em toda parte, agora que chegou ao poder esta seita que, à luz do dia, faz cara de liberal e, à sombra, remete à fuça do que há de mais velho e encarquilhado no país. É na condição de liberal que digo: o liberalismo não foi feito para matar ninguém.

Secretário do Meio Ambiente de Zema é uma herança de Pimentel; para ele, MG é exemplo

Germano Luiz Gomes Vieira, secretário do Meio Ambiente. Zema gostou tanto da gestão do petista Fernando Pimentel que manteve o secretário

Romeu Zema, o inefável governador de Minas, desse tal Partido Novo — que é mais velho do que supõem seus críticos mais duros —, quer apenas resgatar os corpos e pronto! Calma lá, meu senhor! Há mais do que isso. O novo (sem trocadilho) secretário do Meio Ambiente de Minas é um velho conhecido da área: Germano Luiz Gomes Vieira. Ele foi secretário adjunto da pasta desde maio de 2016. Sim, no governo do petista Fernando Pimentel. Assumiu a titularidade no dia 22 de novembro do ano passado. Aquela malfadada reunião da Câmara de Atividades Minerárias já aconteceu, pois, sob a sua gestão. No dia 27 de novembro, o jornal “Hoje em Dia” publicou um perfil laudatório de Vieira. E ele diz esta maravilha:

“O trabalho, que começou no início do atual governo, deu as bases para as transformações que agora estão amadurecendo e se concretizando no Copam (Conselho Estadual de Política Ambiental), no licenciamento ambiental, nas normas e na legislação. Elas já dão mostras de que Minas tem um modelo eficiente e moderno, um exemplo para o País que tem tido reconhecimento”.

Não é segredo para ninguém que Zema foi eleito na cola de Jair Bolsonaro, transformando o PT no capeta de plantão. O agora governador, no entanto, via ao menos uma virtude no governo de Pimentel, em cuja gestão já havia acontecido a tragédia de Mariana: justamente no meio ambiente. E, por isso, manteve o secretário.
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“Ah, você está culpando o secretário que está na titularidade do cargo há dois meses e o atual governo, que tem apenas 26 dias?” Não sou Ministério Público. Não sou polícia. Eu não culpo ninguém. Eu estou tratando de responsabilidade pública. E vejo que Vieira considera que a política ambiental que está em vigor em Minas é exemplo para o Brasil. Como evidencia Mariana. Como evidencia Brumadinho. E há mais a dizer.

Programa de Zema para o Meio Ambiente é uma vereda para a lama e para a terra dos mortos



Eu achei a proposta de Romeu Zema, este homem “novo”, para o meio ambiente. Repete na esfera estadual o que o presidente Jair Bolsonaro prega em escala nacional. Reproduzo a síntese da proposta dessa gente nova:

“O licenciamento é pressuposto para grande parte dos negócios, contudo, ele raramente é conduzido corretamente. É provável que a boate Kiss e a Samarco, por exemplo, estavam legalmente regularizadas no papel, mas a prática mostrou o contrário.
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Considerando a morosidade do setor público, é mais eficiente inverter a lógica dos licenciamentos, presumindo a priori a inocência por parte do agente econômico. Porém, em contrapartida a esta presunção, serão garantidas severas e implacáveis punições, a posteriori, no caso de irregularidades”.

É claro que minha primeira tentação e apontar os múltiplos analfabetismos do texto. Mas deixo isso pra lá agora. Ao contrário do que diz esse troço moralmente indigente, a Samarco deixou de cumprir regras atreladas ao licenciamento, como ter um plano de contingência para desastres, por exemplo — que também não funcionou no caso de Brumadinho. Faltou rigor na concessão do licenciamento, que é justamente o que prega “negócio” chamado “Partido Novo”. 
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Quanto à Kiss, constataram-se nove irregularidades no que diz respeito à segurança do lugar, inclusive a ambiental. Em todos os casos, faltou poder público e sobrou, como é mesmo que diz o “Novo”?, a presunção da “inocência por parte do agente econômico”.

O que o “Novo” propõe em matéria de meio ambiente pertence ao mesmo catecismo do bolsonarismo: o rigor não pode atrapalhar os negócios, que têm prioridade. Se acontecer alguma coisa, aí a gente vê o que fazer com o leite derramado. Zema já deu a sua fórmula e já faz história: “resgatar somente corpos”.

A delinquência que vai acima não obedece nem à lógica elementar:
1: licenciamento é pressuposto dos negócios e não pode atrapalhá-los;
2: o rigor no licenciamento não impede tragédias; se não impede, que se opte pela falta de rigor;
3: em vez de impor exigências prévias para impedir desastres, o que atrapalha os negócios, opte-se por “punições garantidas e severas” caso eles aconteçam.

Isso é considerado… novo!

Essa proposta é a vereda para a lama e a terra dos mortos.

E absurdos por absurdo, o vice presidente do partido Novo mineiro, sai com esta pérola abaixo, ao defender a Vale.


“Lamentável, muito dolorido e MUITO sofrido o desastre de Brumadinho, mas n/ podemos demonizar a Vale. É uma baita empresa, sem minério n/ tem carro, avião, nem geladeira e o mundo é muito melhor c/ empresas como ela do q sem. Ela errou, deve pagar 1 grande multa e voltar a funcionar asap (sic)”









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