Polícia apura estupro coletivo no PI; suspeitos acham 'normal', diz delegado
YALA SENACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TERESINA (PI)
ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO
A Polícia Civil do
Piauí investiga se uma jovem de 17 anos foi vítima de um estupro
coletivo em Bom Jesus (a 732 km de Teresina). Para o delegado que apura o
caso, não há dúvidas de que quatro menores de idade e um rapaz de 18
anos violentaram a menina. Ele aguarda os resultados de exames de DNA
para comprovar o crime coletivo.
Se for confirmado, será o segundo estupro coletivo registrado no Estado no intervalo de um ano. Em 27 de maio de 2015, quatro adolescentes com idades entre 15 e 17 anos foram estupradas por cinco homens em Castelo do Piauí (a 172 km de Teresina). Uma das vítimas morreu.
A
jovem de Bom Jesus foi encontrada seminua e amordaçada com a própria
roupa na última sexta-feira (20), numa construção no centro da cidade, que possui cerca de 22 mil habitantes.
Segundo
a polícia, ela foi achada em coma alcoólico, desacordada e com sinais
de violência. Sua boca tinha isopor e havia sido amarrada para evitar
que a jovem gritasse. Ela foi socorrida e levada para o Hospital
Regional de Bom Jesus.
À
polícia os adolescentes –com idades entre 15 e 17 anos– negaram o
crime, mas admitiram que viram o rapaz de 18 anos fazendo sexo com ela.
"Todos eles se conheciam e acharam normal assistirem ao maior de idade
tendo relações sexuais com a garota desacordada", disse à Folha o delegado Aldely Fonteneli de Sousa.
O
policial desconfia que os menores de idade combinaram a versão para
tentarem se inocentar e incriminar o rapaz que foi preso. "Os quatro
adolescentes ficaram todos numa mesma cela, devido à falta de estrutura
da delegacia, e há indícios de que eles combinaram a mesma versão",
contou.
O
delegado disse que o laudo pericial confirmou que houve o estupro, mas
falta a comprovação do envolvimento dos adolescentes. Para isso, a
polícia fez coleta de material genético para ter a comprovação. O exame
de DNA é feito fora do Estado e deve demorar um mês para ficar pronto.
Os
adolescentes contaram que frequentavam o lugar para apreciar a paisagem
da cidade e que a menor bebeu meio litro de cachaça. A promotora
Gabriela Almeida Santana pediu ao juiz da cidade a transferência dos
quatro menores de idade para Teresina.
O
delegado disse que o rapaz de 18 anos confessou que teve relações
sexuais, mas negou o uso de violência. Também se disse arrependido. E
segundo ele, os outros quatro também fizeram sexo oral com a jovem. Os
menores negam, porém, participação no estupro.
'ACORDOU GRITANDO'
De alta médica desde o último domingo (22), a garota está tendo acompanhamento psicológico. A tia da vítima contou à Folha que a adolescente está com crise nervosa e com dificuldade de dormir.
"Ontem,
ela acordou gritando, se debatendo em pânico e dizendo que os
criminosos estavam no quarto dela. Estamos tentando fazer com que ela,
aos poucos, volte à vida normal", disse a tia, que pediu para não ser
identificada.
CASTELO DO PIAUÍ
O último caso de estupro coletivo no Piauí havia sido registrado em 2015,quando quatro jovens foram amarradas em árvores, agredidas e atiradas do alto de um morro. Uma das vítimas, Danielly Rodrigues Feitosa, 17, morreu após passar dez dias internada.
Thiago Amaral - 8.jun.2015/Cidade Verde | ||
Enterro de vítima morta em Castelo (PI) após estupro coletivo |
Nos dois dias seguintes ao crime, um adulto foi preso e quatro menores de idade foram apreendidos. Os adolescentes foram condenados em julho de 2015 a 24 anos de internação –o tempo máximo previsto no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) é de três anos, com avaliações a cada seis meses.
Seis dias após a condenação, porém, Gleison Vieira da Silva, 17, que havia delatado os colegas, foi agredido até a morte pelos outros três que participaram do estupro. Eles dividiam a mesma cela em um centro educativo em Teresina.
Os três acabaram condenados a três anos de internação pelo assassinato de Gleison. Atualmente, eles cumprem pena em Teresina. O trio recorreu da decisão e aguarda julgamento do recurso (Nota do Blog: E quem ainda teve coragem de recorrer em favor desses três monstros?).
Também
está preso em Altos (PI), mas por assalto a um posto, Adão José da
Silva Sousa, 40, apontado como o mentor do crime. Seu julgamento pelo
estupro ainda não ocorreu.
As
três sobreviventes do estupro se mudaram para Teresina para estudar.
Segundo o promotor que trabalhou no caso, Cezário Cavalcante, uma delas
tinha voltado a viver em Castelo do Piauí.