Políticos brasileiros acordaram hoje menos privilegiados e mais preocupados
POR ALBERTO BOMBIG
Avanço da Lava Jato sobre negócios do BNDES e decisão do STF pela prisão de senador terá forte impacto na economia, no governo e no Congresso.
Polícia Federal deixa o prédio do Congresso. Foto: Jose Cruz/Agência Brasil |
Os recentes desdobramentos da Operação Lava Jato ontem e nesta quarta-feira, 25, romperam duas fronteiras importantes: a do “foro especial por prerrogativa de função” (o foro privilegiado) e a dos negócios do Banco Nacional de Desenvolvimento Nacional (BNDES).
Nesses dois casos, o impacto no mundo da política e da economia tende a ser enorme.
Pelo BNDES passou o programa dos “campeões nacionais” das gestões petistas na Presidência. As dúvidas frequentes sobre o processo de expansão de grandes frigoríficos brasileiros, agora investigados pela força-tarefa da Lava Jato, poderão ser devidamente passadas a limpo com a prisão e os depoimentos do pecuarista José Carlos Bumlai. Cabe lembrar que o grupo JBS, por exemplo, está entre os maiores doadores das campanhas eleitorais.
Não se restringe aos frigoríficos, porém, a atuação do BNDES, como todos sabem. O banco estatal de fomento emprestou dinheiro para um leque de negócios que vão da Petrobrás até a construção do estádio do Corinthians, em São Paulo. Em praticamente todos os casos, há suspeitas de direcionamento político na concessão do dinheiro. O Planalto acompanha atento esse flanco da operação e a continuidade da CPI do BNDES na Câmara.
Outro efeito dos desdobramentos da Lava Jato ontem e hoje é a pressão colocada sobre o Supremo Tribunal Federal (STF), afinal os diálogos do senador Delcídio Amaral (PT-MS) revelados pela operação, citam a Corte como o foro mais eficiente para o lobby dos que buscam frear o trabalho do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e do juiz Sérgio Moro, de Curitiba (PR). A lista de parlamentares envolvidos em irregularidades é extensa e inclui os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Em sua primeira resposta, os ministros do Supremo foram firmes ao autorizar a prisão do senador e essa deverá ser uma tendência para as próximas etapas da Lava Jato. Isso significa que os políticos que se sentiam protegidos pelo foro especial acordaram hoje menos privilegiados, mais comuns e mais temerosos. Já era hora. Foro especial não pode ser garantia para a impunidade.
Os próximos capítulos da saga Operação Lava Jato prometem.