28 de agosto de 2015

SANTARÉM/PA - FAMÍLIAS SERÃO EXPULSAS DO LAGO MAICÁ

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Mais um mega-atentado ao povo do Pará: começa expulsão das famílias do Lago Maicá, em Santarém

O Pará inteiro sabe, o muita gente pelo Brasil afora também, que o município de Santarém e todo o Oeste do Estado guardam nichos de beleza natural que atraem cada vez mais turistas e são orgulho de seus moradores. Sabe-se também que esses mananciais estão sob fogo cerrado de uma penetração econômica predatória e altamente irresponsável, sob o entusiasmo do prefeito Alexandre Von, dos vereadores e de tantos quantos só percebem o progresso como produto da destruição do ambiente natural e da perseguição a seus moradores.

Os novos "donos" do Pará e da Amazônia vão demarcando
como suas as águas e terras de onde expulsam os povos
tradicionais
O Lago Juá está sob assédio da lama que desce da brutal devastação feita pela empresa Buriti, com plena autorização da prefeitura. O Rio Tapajós está sob suspeita de assoreamento em decorrência de milhões de toneladas de barro que há décadas descem dos garimpos. Os igarapés que circundavam a cidade já foram aterrados. As decantadas praias de Alter do Chão, com as suas águas supostamente cristalinas, já apresentam contaminação biológica. E muito mais.

Agora, é a vez do Lago Maicá, a leste da cidade, ironicamente uma área de "preservação permanente". Só que, a pressão de donos de empresas de transporte de grãos está vencendo, e já venceu, no seu objetivo de ali instalar portos de escoamento de soja e milho, como se a regão não dispusesse de outras áreas onde instalar os terminais.

A seguir, transcrevo dois textos, um de Nilson Vieira, engenheiro agrônomo que se bate contra tamanha inversão de valores, em que o poder público incentiva a destruição. Tais empresas de transporte e exportação de grãos sabidamente deixam praticamente nenhum benefício, não geram empregos ou se os geram, são mínimos diante do estrago de sua presença.

O outro texto é do jornalista Jota Ninos, para quem "nossa cidadania precisa reflorescer para questionar esses empreendimentos "sustentáveis", antes que locais como o Maicá e pessoas como seu Sabá virem apenas uma foto drummondiana pendurada na parede de nosso descaso..."

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Sabá, um brasileiro!

Por Nilson Vieira
Seu Sabá, morador há 30 anos e guia turístico do Maicá:
já recebeu a ordem de despejo. 

Não postarei, hoje, as costumeiras fotos do por do sol na orla de Santarém, por um motivo bem prosaico. Para mim o por do sol hoje se deu muito cedo, logo depois de ele ter nascido lá para as bandas do Arapemã, por volta de sete horas da manhã. Foi nessa hora em que tomei conhecimento que o nosso amigo Sabá, agricultor, pescador e guia turístico no Lago do Maicá, perderá sua casa, sua morada e seu modo de viver.

Ele acabou de ser informado que a área onde ele mora por cerca de 30 anos, ao longo dos quais ele tentou documentar como propriedade sua, em vão, já tem dono, supostamente com documento e tudo: uma das empresas que pretende construir terminais graneleiros na entrada do Lago do Maicá. Um dos prepostos dessa empresa informou a ele e outros moradores que lá residem, que suas áreas serão desapropriadas e eles serão removidos para outro local.
Isto nada interessa ao prefeito e
menos ainda aos aventureiros que chegam
sob o apelido de "empresários"

Há algumas perguntas, no entanto, que teimam em martelar minha cabeça, para as quais não encontrei resposta até agora. A Prefeitura Municipal de Santarém pode usar recursos públicos para viabilizar a instalação de empresas privadas nessa ou em qualquer outra área? A Secretaria Estadual de Meio Ambiente, ao arrepio da lei, mais uma vez, vai autorizar a construção desses terminais naquela Área de Preservação Permanente? A Câmara Municipal de Santarém vai colocar em votação e autorizar a modificação do Plano Diretor da Cidade, o que tornará aquela área portuária, o que é proibido até então? A Prefeitura continuará a negar ao Ministério Público do Estado que esteja planejando a construção dos portos graneleiros, quando, na surdina, trabalha dia e noite para isso? Quem ganhará se e quando todas essas questões tiverem resposta afirmativa, por parte de nossas autoridades?

É isto que interessa aos aventureiros que descumprem
as leis. A Amazônia continua terra de ninguém, ou melhor,
terra de quem a destrói impunemente
Enquanto essas respostas não vêm, Sabá, um brasileiro humilde, agricultor e pescador, exímio guia dos meandros do Lago do Maicá, vive a angústia de não saber o que será dele e de sua família, no dia de amanhã. Pelo jeito não será apenas o Maicá, com as maravilhas da fauna e da flora amazônica que esconde e mostra, que receberá um golpe de morte! Sabá e tantos outros moradores na mesma situação, também serão irremediavelmente golpeados!
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O confederado predador

Por Jota Ninos

O prefeito de Santarém, Alexandre Von, já ganhou a fama de preguiçoso, por supostamente não mostrar a que veio em três anos de mandato. Há até quem diga que isso deve pesar contra ele na sua tentativa de reeleição no próximo ano.

Mas na política há coisas que parecem ser uma coisa e acabam sendo bem piores. Já convivi com Alexandre de perto e realmente ele parece muito lento nas coisas que faz, mas que ninguém se engane: ele sabe aonde quer chegar.

Alexandre Wanghon, o Von, é descendente de família de Confederados, aqueles cidadãos norte-americanos que perderam a Guerra da Secessão nos EUA no século XIX, por não aceitarem o fim da escravidão que acabaria com seus negócios nos estados do sul daquele país.

Após a guerra, vários deles resolveram migrar ainda mais pro sul do continente americano, mais especificamente na América do Sul, onde havia terras em expansão, principalmente na Amazônia.

Alguns acabaram fincando raízes em Santarém, onde são tidos como grandes empreendedores na produção agrícola, com inovações tecnológicas e construção naval, já que se embrenharam em áreas rurais ribeirinhas como o Ituqui e Maicá.

Um deles, Richard Hennington, que era pastor evangélico e construtor, foi responsável pela construção do nosso primeiro trapiche para atracação de embarcações em Santarém, onde hoje existe o TFT- Terminal Fluvial Turístico, na orla da cidade em frente à praça do pescador.

Esse dinamismo e visão de futuro, colocou os Confederados na história de Santarém. Alexandre, como seus antepassados, tem o objetivo de entrar para a história com um programa de macro desenvolvimento para a região, baseado na implantação de projetos que beneficiem grandes empreendimentos econômicos, como o entreposto comercial da Zona Franca e a dinamização dos modais de transporte rodofluvial.

A cereja do bolo deste programa é a construção de mais um terminal graneleiro de exportação, na área do Maicá, que consolidará a posição de Santarém como o maior corredor de escoamento da produção de grãos do Centro-Oeste brasileiro.

Alexandre acalenta esse sonho desde que foi vereador no final dos anos 1980. Metódico e inteligente, elegeu-se presidente da Câmara Municipal no início de seu mandato e liderou o processo de organização burocrática da cidade, começando pela Lei Orgânica do Município. Não se recandidatou em 1992, porque talvez atuar no legislativo municipal lhe consumisse o tempo de planejador nato.

Na administração de Ruy Corrêa (1993-1996), assumiu esse posto e deu à Prefeitura uma estrutura administrativa que não tinha e que até hoje está lá, com algumas modificações que ele mesmo implantou nas duas gestões em que foi vice-prefeito e parceiro de Lira Maia (1997/2004), sempre acumulando a mesma pasta de Planejamento. Eleito prefeito em 2012, azeita essa estrutura para continuar seus ideais.

A chegada de produtores de soja para se fixarem em Santarém, foi incentivada ainda no governo de Ruy e tinha em Alexandre o grande entusiasta. No governo Maia, com o apoio de Almir Gabriel, veio a Cargill, multinacional de alimentos e o primeiro porto graneleiro. As digitais de Von estão lá.

O porto da Cargill instalado ao arrepio da lei, sem EIA-RIMA, virou uma dor de cabeça jurídica, com o MPF tentando implodir o empreendimento e gerando uma guerra entre ambientalistas e empresários, nos anos 1990. O capital venceu e o porto não só ficou, como se expandiu.

Agora, Alexandre prepara as bases para um novo empreendimento que deve gerar novas controvérsias. Mas como não quer ter os mesmos problemas ocorridos com a Cargill, trabalha na surdina, com apoio de empresários e até de lideranças comunitárias para implantar o novo porto, sob a égide de seu slogan de campanha: "Desenvolvimento Sustentável", novo mantra do capitalismo para justificar empreendimentos que impactam a natureza.

Alexandre Von é um brasileiro que representa a elite amazônica, com a velha fleuma dos Confederados americanos. Sabe onde quer chegar, e para isso não lhe importa que outro brasileiro, como o pescador Sabá (muito bem retratado pelo poeta das imagens Nilson Vieira, que interrompeu sua árdua caçada fotográfica ao por do sol santareno, para nos contar a tragédia de um simples brasileiro, no texto abaixo), esteja em seu caminho para lembrar que um santuário ecológico pode desaparecer em nome do progresso.

E nós, do lado de cá, vamos usar pelo menos nosso direito a um jus sperneandi ou nos calaremos com a boca de feijão como diria Chico Buarque?

O lago do Maicá é importante, assim como era a Vera Paz, hoje Cargill, assim como é importante o Juá, que ainda pode virar apenas um esgoto a céu aberto do empreendimento imobiliário da Buriti (que, aparentemente, é combatido por Von e seu fiel escudeiro ambientalista Podalyro Neto).

Nossa cidadania precisa reflorescer para questionar esses empreendimentos "sustentáveis", antes que locais como o Maicá e pessoas como seu Sabá virem apenas uma foto drummondiana pendurada na parede de nosso descaso...

Postado por Manuel Dutra, via Jota Parente!
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